Visitámos a aldeia serrana do Talasnal, escondida na imponente serra da Lousã, aquando do nosso roteiro pelas Aldeias de Xisto. Para lá chegarmos, ziguezaguémos as curvas sinuosas no ventura-móbil, sempre feliz por se meter por estradas de montanha. É como um cão aquele carro, quanto mais enlameado estiver, mais contente fica. Ele e nós.

Íamos com grandes expectativas. Tínhamos lido que o Talasnal era uma das aldeias mais recuperadas e visitadas da rede. Talvez seja essa a maior lição que retiramos desta visita: desconfiar de sítios muito publicitados, demasiado “postal”. Em todas as nossas viagens, somos quase sempre surpreendidos pela positiva. Desta feita, e apesar da inegável beleza da aldeia, elevada na montanha, e da maravilhosa e cuidada recuperação das suas casas, sentimos um vazio claustrofóbico na alma. Vimos uma aldeia de exposição, descaracterizada, uma aldeia negócio, repleta de turistas a ver turistas (como nós, é certo), que se atropelavam e encurralavam uns aos outros, em fila indiana, para conseguir espreitar por estreitas portas ou janelas e tirar fotos rápidas para dar lugar ao próximo sem grande queixume.

Foi impossível encontrar a paz do silêncio e solidão, características tão marcantes da experiência serrana. Sentimo-nos desconfortáveis, e percebemos nos rostos dos poucos locais, alguns de idade já avançada, uma irritação e impaciência pelo bando de invasores que teimavam em meter-se por todos os lados sem pedir autorização. Não era a carraça que encontrámos num gato logo à entrada o parasita. Éramos nós. Tivemos de ir embora.

Nas nossas saídas, já visitámos muitas aldeias serranas. Somos invariavelmente acolhidos de braços abertos pelos locais, que nos mimam e acolhem com ternura e generosidade, e com os quais conversamos com tempo e interesse mútuo e genuíno. Ali, tudo nos pareceu falso, para turista ver. Curiosamente, um pouco mais abaixo, sem nenhum turista, encontrámos vestígios de uma outra aldeia, praticamente desocupada, em ruínas. Umas cinco ou seis casas compunham aquele aglomerado quase tomado pela vegetação. Adorámos a sua presença. Real, crua, e apesar de nos termos esquecido do nome (prometemos que iremos procurar), essas ossadas de escombros xistosos deixaram em nós uma impressão muito mais duradoura e inspiradora.

No meio das ruínas, meio recuperadas, vivia um alemão de uma amabilidade marcante, um perfil de homem singular claramente à procura da sua liberdade e paz na comunhão com a natureza.

 

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